UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS – UFAL
FACULDADE
DE LETRAS – FALE
DEPARTAMENTO
DE LETRAS E LINGUÍSTICA
PROGRAMA DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS E LINGUÍSTICA - PPGLL
A INTERAÇÃO LINGUÍSTICA ENTRE OS FALANTES DE
COMUNIDADES QUILOMBOLAS DA REGIÃO SERRANA DOS QUILOMBOS DE ALAGOAS:
PERSPECTIVAS DA ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO
ÁREA
DE PESQUISA: LINGUÍSTICA
LINHA
DE PESQUISA: ESTUDOS TEXTUAIS: ORALIDADE, LEITURA E ESCRITA
MESTRANDO: JOSIMAR
GOMES DA SILVA
ORIENTADORA: Drª.
MARIA FRANCISCA OLIVEIRA SANTOS
MACEIÓ-AL
2014
ÁREA DE PESQUISA: LINGUÍSTICA
LINHA DE PESQUISA: ESTUDOS TEXTUAIS: ORALIDADE,
LEITURA E ESCRITA
A INTERAÇÃO LINGUÍSTICA ENTRE OS FALANTES DE
COMUNIDADES QUILOMBOLAS DA REGIÃO SERRANA DOS QUILOMBOS DE ALAGOAS: PERSPECTIVAS
DA ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO
Projeto de Pesquisa entregue como
requisito para a seleção de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Letras e
Linguística (PPGLL) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), conforme Edital
nº. 32/2014 PPGLL/UFAL, inserido na linha: Estudos Textuais: Oralidade, Leitura
e Escritura.
Mestrando: Josimar Gomes da Silva
Orientadora: Drª. Maria Francisca
Oliveira Santos
MACEIÓ-AL
2014
1
CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA
Este projeto propõe
uma análise conversacional de entrevistas orais a Comunidades Quilombolas
da região Serrana dos Quilombos, em Alagoas. Nessa região, a investigação sobre
as comunidades quilombolas (Filus, Jussara e Mariana, em Santana do Mundaú, Gurgumba
e Sabalanga, em Viçosa) propõe-se,
ainda, em identificar e documentar aspectos históricos e socioculturais desse
povo, suas formas de organização e sobrevivência no passado e no presente, bem
como o caráter social da linguagem através da interação face a face, não interferindo nas diversas análises linguísticas que
surgem a partir de seu corpus,
subsidiando nossos estudos em Análise da Conversação, vinculado ao Programa de
Pós-Graduação em Letras e Linguística (PPGLL) da Universidade Federal de Alagos
(UFAL), liderado pela Drª Maria Francisca Oliveira Santos.
A proposta surgiu a partir do
desenvolvimento do projeto de pesquisa e extensão do Núcleo de Estudos
Linguísticos (NELING), do Campus Universitário Zumbi dos Palmares (CAMUZP), da
Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL), em União dos Palmares. Esse projeto
está sendo desenvolvido e coordenado pelos professores Josimar Gomes da Silva e
Dariana Nunes dos Santos.
Tal
iniciativa encontra-se integrada ao Projeto Regional O conhecimento linguístico e sociocultural da comunidade quilombola
Muquém, União dos Palmares – Alagoas, coordenado pela Profª. Dra. Maria
Denilda Moura, da Faculdade de Letras (FALE) da UFAL e que, por sua vez,
encontra-se integrado ao Projeto Nacional Para
a história do português brasileiro (PHPB), coordenado nacionalmente pelo
Prof. Dr. Ataliba Teixeira de Castilho, da Universidade de São Paulo (USP) e da
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). O PHPB é um projeto que visa
conhecer o processo de formação do Português Brasileiro (PB), bem como sua
evolução e a contribuição linguística de línguas indígenas e africanas.
Diante
desses pressupostos, pretende-se responder algumas perguntas próprias de
pesquisas voltadas à oralidade, levando em conta a assimetria presente nas
entrevistas orais: como é organizado o discurso oral em entrevistas a pessoas
remanescentes quilombolas? Como se dá a interação dos falantes (entrevistado e
entrevistador)? Confirma-se a assimetria nesse gênero ou, vez por outra, há
indícios de simetria? Quais estratégias os falantes dessas comunidades utilizam
para manter o turno, iniciá-lo e transferi-lo? Como se dá a composição do texto
oral por esses falantes? Quais os elementos de linguagem que permitem haver
interação ou procuram bloqueá-la?
Vale
ressaltar que, embora o projeto esteja associado a vertentes Sociolinguísticas,
nada nos impede de reconhecer os traços linguísticos advindos das conversações
face a face, presentes nas transcrições que faremos dos dados coletados de
entrevistas com moradores dessas comunidades remanescentes, pois o corpus será composto por entrevistas,
sendo todas as sequências conversacionais representadas pelo par pergunta-resposta (P-R). Sendo assim, observamos que no texto falado, há
uma organização tópica, com regularidades passíveis de investigação.
Observando-se a organização do tópico conversacional,
convém citar Marcuschi (2005, p. 75-76), ao lembrar que as regras da
conversação, que pressupõe dois ou mais falantes, são diferentes de um
monólogo:
Na
conversação, a perspectiva do desenvolvimento é múltipla; cada turno pode
colocar uma reorientação, mudança ou quebra do ponto de vista em curso; a
repetição de conteúdos por parte de vários falantes não é redundante; asserir e
confirmar são atos diferentes: a asserção afirma uma proposição e a confirmação
afirma um consenso [...].
Considerando o caráter dinâmico dos gêneros
conversacionais, analisaremos as várias estratégias de formulação textual no
gênero entrevista oral nessas comunidades quilombolas da Região Serra dos
Quilombos do estado de Alagoas.
Os
estudos conversacionais possibilitam essa análise, considerando os fenômenos
interacionais dos falantes, como também a articulação dos vários mecanismos da
fala dos interactantes, preocupando-se com a formulação e a composição do par
P-R.
Tendo
em vista o mencionado, podemos analisar no corpus
constituído a partir das transcrições das entrevistas orais gravadas em áudio
os turnos conversacionais, os marcadores discursivos, as sequências
conversacionais, as marcas de oralidade, os modalizadores, a coerência e a
coesão conversacionais, a cortesia, a organização tópica, dentre outros
mecanismos próprios da interação face a face.
2
OBJETIVOS
2.1
OBJETIVOS GERAIS
Realizar
uma análise conversacional sobre a interação linguística a partir de entrevistas orais gravadas nas Comunidades Quilombolas
da região Serrana dos Quilombos, em Alagoas.
2.2
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
-Fazer
levantamento bibliográfico do gênero entrevista oral;
-Desenvolver
pesquisa documental;
-Elaborar
questionários a respeito de aspectos históricos e socioculturais da comunidade;
-Realizar
entrevistas gravadas com moradores das comunidades quilombolas, os quais serão
selecionados de acordo com os seguintes critérios: sexo, faixa-etária e maior
conhecimento da história da comunidade;
-Transcrever
as entrevistas gravadas, armazenar os dados, a fim de disponibilizá-los para os
diversos estudos linguísticos através do NELING (construção de site, blog e
publicação de livro contendo os dados transcritos), favorecendo o
desenvolvimento de outros estudos a partir desses dados;
-Coletar
material visual;
-Coletar
material audiovisual;
-Analisar a entrevista
realizada e transcrita seguindo os parâmetros dos estudos conversacionais (turnos, marcadores discursivos,
sequências conversacionais, marcas da oralidade, os modalizadores, organização
tópica) e textuais
(coesão e coerência);
-Produzir a dissertação de
mestrado a partir das análises empreendidas, bem como divulgar, em eventos
científico-acadêmicos, os resultados da pesquisa através de apresentação e de
publicações impressas e digitais.
3
BASE TEÓRICA
Este projeto de pesquisa seguirá as perspectivas
elencadas por teóricos da Análise da Conversação (AC), servindo-se também da
Linguística Textual (LT) para esclarecer alguns conceitos próprios da textualidade
presentes nas conversas entre os interactantes. Sendo a conversação a primeira
forma de linguagem, observamos que a linguagem possui uma natureza dialógica,
conforme preconiza Bakhtin (2010) e, por proceder dessa forma, comunicamo-nos
por meio de perguntas e respostas (asserções e réplicas).
A AC surgiu a partir dos estudos vinculados à
Etnometodologia, na década de 1960. Desde então, surge como a área da
Linguística voltada à análise de textos da oralidade, nos quais a entrevista
oral se insere preocupando-se com os conhecimentos linguísticos,
paralinguísticos e socioculturais, ultrapassando a perspectiva estrutural, e se
ligando ao caráter pragmático da conversação cotidiana dos sujeitos. Essa leitura feita pela AC focaliza que “os meios pelos
quais os membros de uma sociedade podem interagir são extremamente diversos, e
nem sempre de natureza linguística” (KERBRAT-ORECCHIONI, 2006, p. 11).
Por se tratar de prática social dos sujeitos, os estudos
conversacionais partem de situações concretas de uso: são textos reais de
interação social. Apesar de ser rascunho de si mesmo, o texto oral possui uma
organização própria, com características que orientam o evento comunicativo. Analisando
a conversação, Marcuschi (2005, p. 15) define cinco características básicas da
AC:
a)
interação entre pelo menos dois falantes;
b)
ocorrência de pelo menos uma troca de falantes;
c) presença
de uma sequência de ações coordenadas;
d) execução
numa identidade temporal;
e)
envolvimento numa “interação centrada”.
Também é próprio das características organizacionais da
conversação dois tipos de diálogos (STEGER apud
MARCUSCHI, 2005): o assimétrico (em que um dos falantes orienta a conversa) e o
simétrico (em que todos os interactantes têm direito à posse de turno mediando
o assunto a ser desenvolvido). Nesta pesquisa, desenvolveremos uma análise,
seguindo os aspectos estritamente típicos do diálogo assimétrico, por se tratar
de uma entrevista oral, na qual o entrevistador conduzirá o assunto a ser
tratado no turno de modo sistemático.
Ao
tratar do turno conversacional, postulado por Sacks, Schegloff e Jefferson (1974 apud MARCUSCHI, 2005,
p. 18), consideramos algumas propriedades fundamentais:
a) a troca de falantes recorre ou pelo menos
ocorre;
b) em qualquer turno, fala um de cada vez;
c) ocorrências com mais de um falante por vez são
comuns, mas breves;
d) transições de um turno a outro sem intervalo e
sem sobreposição são comuns; longas pausas e sobreposições extensas são a
maioria;
e) a ordem dos turnos não é fixa, mas variável;
f) o tamanho do turno não é fixo, mas variável;
g) a extensão da conversação não é fixa nem
previamente especificada;
h) o que cada falante dirá não é fixo nem
previamente especificado;
i) a distribuição dos turnos não é fixa;
j) o número de participantes é variável;
l) a fala pode ser contínua ou descontínua;
m) são usadas técnicas de atribuições de turnos;
n) são empregadas diversas unidades construidoras
de turno: lexema, sintagma, sentença, etc.;
o)
certos mecanismos de reparação resolvem falhas.
Esse modelo elementar considera sempre a universalidade
da regra básica da conversação: “fala um
de cada vez” (MARCUSCHI, 2005, p. 19). Assim, haverá organização na tomada
de turno, de modo que o falante que está de posse do turno conclua-o a qualquer
momento, passando o turno para outro falante (transição de turno). A transição
de turno pode ser marcada por pausas, hesitações, sobreposição de vozes.
Evidenciamos também aqui os mecanismos do interior do
texto oral, os quais conduzem o texto coerentemente, como, por exemplo, a repetição
tão utilizada na oralidade. Nesse sentido,
Antunes (2008) argumenta que existem pesquisas sobre a funcionalidade da
repetição na fala e na escrita. Recorrentemente, muitas pesquisas abordam a
paráfrase, o paralelismo e a repetição propriamente dita como recursos da
repetição em textos da modalidade escrita. Isso não significa que seu uso não
esteja também em textos orais. Também seria insignificante propagar que a
repetição é bem vinda na modalidade oral da língua enquanto que na escrita,
não. Devemos entender a fala como uma representação fônica da língua e a
escrita como uma representação gráfica da língua. Desse modo, observamos que
existem recursos mais utilizados na fala que na escrita, e a repetição pode ser
um deles.
Através da literatura dada por Antunes (2008),
lembramos que esses recursos de repetição existem tanto na modalidade escrita
quanto na oral. Conceituando os vários recursos, por paráfrase, entende-se que
é “[...] uma operação de reformulação, de dizer o mesmo de outro jeito”.
(ANTUNES, 2008, p. 62). Ela se constitui um forte recurso reiterativo de
coesão, propiciando a elucidação de uma ideia por meio de um novo olhar
(reformulação).
Já o paralelismo é um recurso
coesivo que estabelece coordenação entre elementos com “[...] valores sintáticos
idênticos, o que nos leva a prever que os elementos coordenados entre si
apresentem a mesma estrutura gramatical” (ANTUNES, 2008, p. 64-65), ocorrendo
uma simetria nos planos para os quais as ideias remetem.
A repetição propriamente dita “[...]
corresponde à ação de voltar ao que
foi dito antes pelo recurso de fazer reaparecer uma unidade que já ocorreu
previamente”. (ANTUNES, 2005, p. 71). Este recurso parece-nos muito comum na
oralidade como requisito próprio da continuidade textual exigida pela fala. E
sobre a utilização desse recurso reiterativo, a autora percebe que é um recurso
muito significativo, pois está presente em textos orais e escritos sem que seja
afetada a qualidade do texto.
A repetição propriamente dita faz
parte da regularidade dos textos orais. Ela desempenha “[...] diferentes
funções, todas elas, de alguma forma, coesivas” (ANTUNES, 2008, p. 72), dando
ênfase à determinada ideia. No entanto, a grande função que atribuímos à
repetição “[...] é aquela de marcar a
continuidade do tema que está em foco”. (ANTUNES, 2008, p. 74).
Vale ressaltar que o uso da
repetição pode tornar um texto menos interessante ou mais informativo, a
depender do gênero textual. Há gêneros escritos em que seu uso pode ser mais
funcional que em gêneros orais. “Desse modo, pode parecer um gênero textual na
modalidade de língua escrita com marcas da oralidade e vice-versa, exigindo do
falante a competência linguística para identificá-las”. (SANTOS, 2007, p. 47).
A repetição é bem mais recorrente em textos orais que
em textos escritos, pois nestes ainda perdura o estigma de que o uso da
repetição não é bem vindo, causando uma redundância nos textos. Quanto àqueles,
a repetição aparece como um fenômeno próprio da interação face a face, pois,
conforme demonstra Kerbrat-Orecchioni (2006, p. 39):
Em
vez de demonstrar o caráter defeituoso dos sujeitos falantes, tais fenômenos
constituem manifestações de sua capacidade de construir enunciados interativamente eficazes. Sob a
aparente “desordem” do oral espontâneo, escondem-se, de fato, regularidades que
são de natureza diversa das que se observam na escrita, porque as condições de
produção/recepção do discurso são elas mesmas de outra natureza. E se
permanecemos durante tanto tempo cegos a essas regularidades que hoje a análise
conversacional persegue, é sem dúvida porque estamos muito acostumados a nos
“acomodar” exclusivamente ao discurso escrito.
A repetição contribui para garantir a continuidade à
organização tópica na conversação. Já que o texto oral, como rascunho de si
mesmo, não pode ser repensado, a utilização de estratégias de repetição serve
para garantir a unidade do texto. A repetição serve como elemento coesivo
textualizador que, como observa Koch (2005, p. 127), mantém a unidade
discursiva através da coesão sequencial em que “[...] a continuidade dos
sentidos no texto é assegurada, em parte, pelos recursos de manutenção
temática, entre os quais se destaca a recorrência de itens de um mesmo campo
conceitual ou lexical, muitas vezes também morfologicamente relacionados”.
Na construção do texto falado, temos prazer em
repetir: “gostamos de repetir provérbios, frases feitas, trechos
de canções famosas, slogans políticos ou publicitários, palavras, expressões ou
enunciados inteiros que são constantemente pronunciados por artistas de TV”.
(KOCH, 2005, p. 124). É nesse contexto de convívio social em que a repetição
está inserida como elemento agregador capaz de fazer com que os diversos
sujeitos da interação assimilem o novo a partir do que já é de seu
conhecimento.
Johnston
(1987 apud KOCH, 2005) destaca que os estudos sobre repetição estão divididos
em quatro grupos: coesivos, retóricos, semânticos e aquisição da linguagem,
socialização e ensino de línguas. Deve-se a esse autor grande parte do material
de que dispomos ao estudar e/ou enfocar o uso da repetição em textos orais. Marcuschi (2006) enfatiza, em suas análises, cinco
planos funcionais da repetição: a coesividade (ligada ao encadeamento intra e
interfrástico da composição textual-discursiva), a compreensão (intensificação
e esclarecimento discursivo), a continuidade tópica (amarração das ideias como
introdução e reintrodução temática), a argumentatividade (possibilitando a
contestação das ideias do locutor/interlocutor) e a interatividade (monitoração
da tomada de turno). Parece-nos eficaz construir nossa análise sobre a
repetição no plano da coesividade devido à composição das ideias em textos de
entrevistas orais. Nesse aspecto, Santos (2004, p. 56) contribui para a ideia
de que a “[...] repetição na língua falada é considerável, porque possibilita a
condução do tópico por parte daqueles que têm o controle do discurso [...]”.
As
repetições se apresentam de modo recorrente na conversação. E, conforme
Marcuschi (2001), são importantes as pesquisas com os textos orais para
redescobrirmos e refletirmos melhor sobre seu uso nos contextos da vida social.
Na
oralidade, as repetições são frequentes, pois, a todo momento, os falantes
estão retomando, alterando, reafirmando numa continuidade textual, operando,
muitas vezes, sentidos diferentes sobre o elemento repetido. “Tais repetições,
no entanto, são extremamente frequentes, visto que é comum os falantes
utilizarem esse recurso para ganhar maior tempo de planejamento”. (KOCH, 2005,
p. 131).
Ao
se falar em tipos de repetições, ganham destaque as autorrepetições e as
heterorrepetições (alorrepetições). Entende-se por autorrepetição aquelas
repetições produzidas pelo mesmo falante em uma interação face a face, tendo
por função “[...] ganhar tempo para o planejamento, assegurar a posse de turno
ou, ainda, simplificar a tarefa de produção discursiva [...]”. (KOCH, 2005, p.
134).
As
heterorrepetições também funcionam para ganhar tempo para o planejamento das
ideias, para garantir a posse do turno, para demonstrar atenção e interesse,
expandindo a resposta a alguma pergunta, para aceitar a ajuda do interlocutor
na construção do discurso, dentre outras funções.
4
METODOLOGIA
A metodologia utilizada na pesquisa segue o método
qualitativo, que evidencia o estudo do homem enquanto ser agente, de convívio
social. Ser que interpreta o mundo em que vive, sua linguagem, sua comunidade,
seus hábitos.
Servindo-se do tipo de pesquisa fenomenológica (MOREIRA,
2002), serão colhidos, em várias situações, dados que comprovem, empiricamente,
a oralidade de um povo sofrido, trabalhador rural e remanescente quilombola, a
partir de sua história contada por eles mesmos. Além do mais, a pesquisa
seguirá uma análise processual desses dados investigados em entrevistas fazendo
com que seu uso aproxime-se estritamente do contexto educacional.
Sendo
assim, Moreira (2004, p. 14-15) descreve as principais estratégias para a
coleta de dados seguindo o método fenomenológico, quais sejam:
a) entrevista: os participantes descrevem
verbalmente suas experiências de um fenômeno;
b)
descrição escrita de experiências pelo próprio participante;
c) relatos autobiográficos, em forma escrita ou
oral;
d) observação participante: aqui o pesquisador
parte das observações do comportamento verbal e não verbal dos participantes,
de seu meio ambiente, das anotações que ele mesmo fez quando no campo, de áudio
e video tapes disponíveis etc.
Como nossa pesquisa está voltada à
entrevistas orais, seguindo a perspectiva fenomenológica, utilizaremos palavras
reais dos participantes as quais ajudarão no processo de interpretação,
descrição e análise dos dados. As falas dos interactantes podem confirmar a
veracidade dos fatos narrados por eles ou mesmo escondê-los por privacidade ou
por desejo da comunidade ou, ainda, “[...] o informante pode esquivar-se de
perguntas mais diretas, fornecendo respostas evasivas ou simplesmente
inventadas” (MOREIRA, 2004, p. 16).
Esses são alguns problemas que podemos
enfrentar ao realizar entrevistas, com os mais diversos sujeitos, mas o que
vale, neste tipo de pesquisa, é tão somente a descoberta (heurésis, em grego) de conhecimentos através da experiência vivida
pelo entrevistado.
O trabalho se valerá de um corpus formado por entrevistas orais a
comunidades quilombolas da região Serrana dos Quilombos de Alagoas, cuja
gravação e transcrição será realizada pelo NELING, da UNEAL, grupo de estudos
coordenado pelos professores Josimar Gomes da Silva e Dariana Nunes dos Santos.
De acordo com Moreira (2002, p. 54), a
entrevista é “uma conversa entre duas ou
mais pessoas com um propósito específico em mente”, buscando evidenciar a
história de vida de comunidades e suas experiências subjetivas para analisar as
especificidades da formulação textual na fala desses partícipes sociais.
No
que respeita a transcrições de conversas, Marcuschi (2001, p. 49) afirma que “transcrever
a fala é passar um texto de sua realização sonora para a forma gráfica com base
numa série de procedimentos convencionalizados”, de modo a considerar o material
empírico produzido através de conversações reais como elementos verbais (a coesão
e a coerência) e não verbais (a paralinguagem, a cisnetésica e a proxêmica).
Após a realização da transcrição serão
elaborados relatórios das falas transcritas, bem como das análises minuciosas
dos dados contidos no corpus,
realizando-se também a divulgação no meio acadêmico dos resultados da pesquisa
por meio da dissertação a ser defendida no PPGLL.
5 CRONOGRAMA DAS
ATIVIDADES DE PESQUISA
ETAPAS/MÊS
|
Mar/15
|
Abr/15
|
Mai/15
|
Jun/15
|
Jul/15
|
Ago/15
|
Set/15
|
Out/15
|
Nov/15
|
Dez/15
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Curso das disciplinas
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Levantamento
bibliográfico
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ETAPAS/MÊS
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Jan/16
|
Fev/16
|
Mar/16
|
Abr/16
|
Mai/16
|
Jun/16
|
Jul/16
|
Ago/16
|
Set/16
|
Out/16
|
Nov/16
|
Dez/16
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Coleta
de dados
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Análise
dos dados
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Redação do trabalho
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Revisão e redação final
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Entrega da dissertação
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Defesa da dissertação
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6 REFERÊNCIAS
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origens, usos e variantes do método fenomenológico. In: Revista de Administração e Inovação. São Paulo: RAI, 2004, v. 1, n.
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MOURA, M. D. Resquícios de Palmares: o que uma comunidade quilombola nos diz.
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São Paulo: T. A. Queiroz Editor, 1990.
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Maceió: Edufal, 2014.
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